O
sofrimento é parte da condição da existência humana, a dor é certa e
inevitável. Em alguns casos o sofrimento traz um exílio existencial, ele nos
tira da letargia, de um estado superficial ou adormecido de consciência.
O exílio existencial esvazia nossa
mente da frivolidade e nos reconduz à mais profunda raiz da vida.
Nossa atitude perante a dor, com
todas as dificuldades e angústias que traz dirá quem somos.
O
sofrimento é um dilaceramento interior, em que o eu que sofre adquire uma
profunda consciência de si, do mal e do bem.
E é essa consciência aprofundada por
meio da reflexão que nos leva à uma interioridade que permite reconfigurar o
sofrimento. Somos levados ao abismo do ser , a dor nos revela.
A questão
não é o sofrimento em si, mas o sentido que damos a ele, isto é, a nossa
resposta ao mal.
Acolher o sofrimento e interagir com
a dor pode ser um primeiro passo para convertê-la em um bem, é também uma forma
de medir nossa coragem e liberdade. Quando a dor é negada ou simplesmente
expulsa sem ser vivenciada ou compreendida pode trazer mágoa, revolta ou
abatimento e consequentemente uma impotência perante seus desdobramentos.
Devemos assumir a responsabilidade
sobre as circunstâncias, sejam elas boas ou más, quando nos apropriamos dos
elementos que compõem nossa vida, e isso inclui o mal, podemos enfim edificar,
construir um mundo novo.
Penetrar na dor que habita em mim,
permite que eu a transfigure, dê um novo sentido e resgate minhas
potencialidades.
Por vezes, por meio de intenso
sofrimento pode-se sentir o bafo da Morte, algumas dores evoca a morte, mas é
justamente nessa evocação que a vida se revela.
O bem e o mal residem na relação com
o outro, o sofrimento estabelece a igualdade entre os homens, o aprofundamento
do nosso ser pela dor, nossa e do próximo, desperta e aprofunda a compaixão. A
cura está em grande parte na comunhão.
Nossas feridas podem ser remédio
para as feridas de outros, a declaração de nossa dor pode ajudar a curar o meu
próximo. A dor compartilhada é terapêutica.
Quando nos identificamos com o
sofrimento alheio há um processo chamado de catarse, que é a purificação da
alma por meio de uma descarga emocional.
Quando nos reconciliamos com o
passado, com nossa dor, podemos ser ponto de iluminação no caminho que outros
podem trilhar. Somos curados e contribuímos para a cura do nosso semelhante.
O absurdo da vida, nas suas mais
variadas formas de mal exige um sentido, mais do que compreender, é encontrar
um sentido metafisico, espiritual. A transfiguração da dor é encontrada nesse
sentido; na comunhão, na transcendência, na sublimação e redenção.