terça-feira, 28 de abril de 2015

Disseram ...








Um dia disseram que o negro não era gente, o escravizamos.

Um dia disseram que o judeu não era um ser humano, 

o queimamos.

Um dia disseram que o índio não tinha alma, o exploramos.

Disseram que a mulher era inferior ao homem, a estupramos.

Hoje dizem que o feto não é um bebê.


Vamos matá-lo?!







Ilustração de Emerson Oliveira: http://foliodoemerson.tumblr.com/



quarta-feira, 22 de abril de 2015

A transfiguração da dor






          O sofrimento é parte da condição da existência humana, a dor é certa e inevitável. Em alguns casos o sofrimento traz um exílio existencial, ele nos tira da letargia, de um estado superficial ou adormecido de consciência.
            O exílio existencial esvazia nossa mente da frivolidade e nos reconduz à mais profunda raiz da vida.
            Nossa atitude perante a dor, com todas as dificuldades e angústias que traz dirá quem somos.
            O sofrimento é um dilaceramento interior, em que o eu que sofre adquire uma profunda consciência de si, do mal e do bem.
            E é essa consciência aprofundada por meio da reflexão que nos leva à uma interioridade que permite reconfigurar o sofrimento. Somos levados ao abismo do ser , a dor nos revela.
            A questão não é o sofrimento em si, mas o sentido que damos a ele, isto é, a nossa resposta ao mal.
            Acolher o sofrimento e interagir com a dor pode ser um primeiro passo para convertê-la em um bem, é também uma forma de medir nossa coragem e liberdade. Quando a dor é negada ou simplesmente expulsa sem ser vivenciada ou compreendida pode trazer mágoa, revolta ou abatimento e consequentemente uma impotência perante seus desdobramentos.
            Devemos assumir a responsabilidade sobre as circunstâncias, sejam elas boas ou más, quando nos apropriamos dos elementos que compõem nossa vida, e isso inclui o mal, podemos enfim edificar, construir um mundo novo.
            Penetrar na dor que habita em mim, permite que eu a transfigure, dê um novo sentido e resgate minhas potencialidades.
            Por vezes, por meio de intenso sofrimento pode-se sentir o bafo da Morte, algumas dores evoca a morte, mas é justamente nessa evocação que a vida se revela.
            O bem e o mal residem na relação com o outro, o sofrimento estabelece a igualdade entre os homens, o aprofundamento do nosso ser pela dor, nossa e do próximo, desperta e aprofunda a compaixão. A cura está em grande parte na comunhão.
            Nossas feridas podem ser remédio para as feridas de outros, a declaração de nossa dor pode ajudar a curar o meu próximo. A dor compartilhada é terapêutica.
            Quando nos identificamos com o sofrimento alheio há um processo chamado de catarse, que é a purificação da alma por meio de uma descarga emocional.
            Quando nos reconciliamos com o passado, com nossa dor, podemos ser ponto de iluminação no caminho que outros podem trilhar. Somos curados e contribuímos para a cura do nosso semelhante.
            O absurdo da vida, nas suas mais variadas formas de mal exige um sentido, mais do que compreender, é encontrar um sentido metafisico, espiritual. A transfiguração da dor é encontrada nesse sentido; na comunhão, na transcendência, na sublimação e redenção.