quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Expectativas e frustrações


Já houve época em que acreditei no clichê “o importante é ser feliz”, hoje sei que o importante mesmo é cumprir a missão antes de partir.

A ingenuidade também me fez acreditar que deveria ser “boazinha”. Hoje sei que bondade não tem a ver com complacência burra, isto é, permitir ser manipulada e usada. Aprendi que a empatia é importante e que a dignidade também, e ainda melhor quando consigo unir as duas coisas.
Por que é tão difícil praticarmos uma verdadeira empatia e alteridade pelas pessoas que estão à nossa volta sem se perder no caminho?
É possível ser esvaziados de si na doação sem ser roubados em nossa subjetividade?
Como é bom encontrarmos alguém para se desnudar, compartilhar nossa história, criar laços de alma!
Mas, e quando as coisas não vão bem? Como é ouvir exatamente o que eu disse, só que agora contra mim? Ou ser ridicularizado por nossas peculiaridades?
Soltar ou não os nossos fantasmas correndo o risco de sermos assombrados depois?
Bem sei que não tenho controle sobre as ações de outras pessoas, afinal mal tenho controle sobre minhas próprias ações. “Pois o bem que quero, não faço; mas o mal que não quero, este faço.”
Cada pessoa é um universo único: teve outra vida, outras vivências, outros traumas, outras questões. Não posso e não devo compará-la com minha vida ou com qualquer outra pessoa/vida. A singularidade é uma das características mais belas do ser humano. Cada pessoa que conhecemos é um quebra-cabeça, nem por isso precisamos decifrá-la de imediato.
Às vezes ficamos tentando entender o que não é possível apenas pelo intelecto, é preciso acolher para que o relacionamento desabroche e só depois, talvez possamos compreender. Entrar no mundinho alheio leva tempo e exige paciência.
Interaja com empatia, ouça sem pensar em retrucar, sem dizer o que teria feito no lugar dela, ou naquela coisa parecida que aconteceu com um amigo seu. Deixe de lado suas opiniões, seus julgamentos de valor.
Se a pessoa pedir expressamente sua opinião, seja comedido; nem sempre conhecemos todo o enredo. Conhecendo-se aos poucos, as expectativas e frustrações podem diminuir.
As pessoas sempre reclamam das decepções. Frustramo-nos quando o outro não age da forma como esperávamos. No entanto, já parou para pensar nesse outro, no fardo que colocamos nele?
As pessoas não tem a obrigação de atender nossas expectativas.
Muitas vezes a decepção é só nossa, somos responsáveis pelo que sentimos. Ignoramos o direito de cada um ser o que é, exigindo que sua pessoalidade se enquadre em nossos critérios.
As expectativas nos aprisionam e coloca o outro em uma prisão também.
Se quiser ter certeza do fracasso de um relacionamento é isto, esperar que o outro seja/faça/aja/conforme esperamos.
Sinceramente, não quero que as pessoas esperem muito de mim, não sou perfeita nem boazinha. Sou egoísta por natureza, preguiçosa, entre tantos outros adjetivos negativos.
Falar sobre eles não é uma desculpa para agir mal, mas reconhecer a minha incapacidade de atender as minhas próprias expectativas que são grandes o suficiente para que eu venha também carregar as expectativas alheias.
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”

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