Cada vez que o assunto “Missões” está em
pauta uma das coisas que mais ouço é que não podemos ficar na zona de conforto.
O lema é: tem que sair da zona de conforto.
Zona de conforto, o que seria isso? Sair
do comodismo para ajudar o próximo? Ir a lugares longínquos?
Sempre fui do tipo de pessoa que acha
que antes de tentar varrer a calçada do nosso vizinho temos que verificar se a
nossa casa não precisa de uma faxina.
E a conversa sobre ajudar o próximo,
como fica? No meu entendimento o próximo é o mais próximo mesmo, aquele que
está geograficamente perto de mim.
Considero muito importante e louvável as
pessoas que se dispõem a ir até os confins da Terra para oferecer ajuda. Há os
missionários que trabalham no nordeste, os médicos sem fronteiras, ONG's que
visitam diversas cidades e países para doar um pouco de calor humano, os que
visitam asilos e casas de recuperação de dependentes químicos, enfim diversos
trabalhos voltados a atender as necessidades e resgatar a dignidade humana.
Apoio todos com essa finalidade, a causa
de devolver a humanidade para as pessoas é sempre justa.
Eu, no entanto, tenho muito o que fazer
no meu próprio meio. Minha consciência muitas vezes me chama a ajudar as
pessoas ao meu redor. E isso não é desculpa para ficar na zona de conforto,
como muitos dizem. O fato é que me sinto vocacionada a ser uma influência
positiva no meu próprio meio. E olhem que isso não é fácil, pois no convívio
sempre com as mesmas pessoas o desafio é imenso, o dia a dia arranca qualquer
máscara de bom samaritano que se pretenda usar.
O trabalho missionário é tão importante,
impactante e desgastante na zona de conforto (onde vivemos) quanto fora dela.
Aliás, acredito que existam pessoas que
fazem trabalhos voluntários para justamente ficar na zona de conforto. Para
alguns é mais fácil visitar crianças no orfanato do que lidar com seus
sobrinhos. Existem pessoas que fazem visitas ao asilo, mas mal conversam com
seus avós. Sei também que existe toda uma boa vontade e a pessoa em questão é
cheia de boas intenções. Isso não é de forma alguma uma crítica àqueles que
fazem esses trabalhos, é apenas uma visão particular a respeito de missão.
Porque campo missionário é toda e
qualquer pessoa que se encontra longe de Deus. Esse campo pode ser perto de mim
ou não. E zona de conforto não é um local geográfico e sim uma postura pessoal.
Podemos impactar vidas em nosso próprio trabalho diário, em nossa família, no
círculo de amigos, basta ter uma visão clara de que ser voluntário não é a
única forma de ser missionário.
Cada um deve examinar a si mesmo e tomar
consciência de seu chamado. Identificar para onde foi vocacionado a agir é um
dos pontos principais para cumprir a missão. A partir dessa identificação não
desperdiçamos tempo, energia e nossos talentos em algo do qual não fomos
chamados. Isso não significa que é perda de tempo ajudar as pessoas fora do
nosso chamado, “fazer o bem sem olhar a quem”, só para relembrar. Mas estou
dizendo que quando identificamos nossa vocação, o que fazer e onde fazer,
podemos ser mais uteis porque nossos dons são potencializados quando nos sentimos
realizando o que fomos feitos para fazer.
E quando recebemos uma vocação,
recebemos junto a condição necessária para realizar o chamado, recebemos a
vontade, a paixão, o desejo e as oportunidades.
Porque é Ele quem opera em nós, tanto o querer quanto o realizar.