domingo, 20 de julho de 2014

As Letras e o “comboio de corda...”


“A linguagem é o modo do pensamento se tornar efetivo. (...) Ninguém pode pensar sem palavras.”    (Friedrich Schleiermacher)
A linguagem é o pensamento na prática. Exercitá-la, seja na forma escrita ou falada, é exercitar o pensamento. Ler e escrever são as duas faces da mesma moeda. Quando nossa linguagem é lapidada, por consequência nosso pensamento também é. As ideias e as emoções são de certa forma organizadas e até categorizadas. Uma linguagem lapidada tem melhores condições de identificar sentimentos e encaixá-los adequadamente gerando ações  mais coerentes com as situações apresentadas.

Particularmente falando, muito do meu desenvolvimento emocional e psíquico, eu devo a leitura e a escrita. Foi por meio da literatura que aprendi muito sobre meu ser e sobre o mundo. A introspecção me levou às Letras. As palavras se tornaram o principal contato com o mundo. Ler para desvendar a vida,  escrever para  despojar as interpretações que fazia do que lia e do que vivenciava.
A prática me mostrou que quanto mais eu lia e escrevia, melhor conseguia lidar com minhas experiências, a literatura me ensinou a usar as palavras em consonância com meu interior, também percebi que usar as palavras sendo fiel aos seu significados era importante. Corromper as palavras era de certa forma, também corromper meus sentimentos, deturpar as palavras era deturpar o meu próprio discurso, ser fiel aos significados era ser fiel a mim mesmo.
Pois como querer expressar X dizendo Y?
Fiz do dicionário um companheiro fiel, e cada vez mais a literatura me mostrava que uma boa prática da escrita e leitura levava à uma compreensão melhor da alma. 
O mestre “Will” foi a prova das minhas percepções. Shakespeare foi excepcional  em mostrar a complexidade da alma humana em todas as nuances e sutilezas por meio do teatro, poucos conseguiram expor os sentimentos de ambição e vingança como o “Will” em Ricardo III, e o que dizer do monstro de olhos verdes (ciúme) em Otelo?
Mesmo aqueles que não possuem a erudição de um grande escritor, é capaz de treinar a linguagem ajustando-a ao seu mundo interior e com isso melhorar seu  discurso.
A literatura é uma via de mão dupla, ela apura a linguagem e proporciona um melhor conhecimento da alma. E essa ferramenta é acessível a todos, a literatura está em toda parte; em livros, no teatro, na música, nas novelas e filmes. Na verdade a literatura está por toda parte, muitas vezes disfarçada em uma nova roupagem.
A questão colocada não é intelectualidade, esnobismo literário, ou pedantismo gramatical, é entender que nossa linguagem está profundamente ligada a nossa alma. E a literatura é um grande apoio para essa ponte.


As Letras ajudam na compreensão desse “comboio de corda que se chama o coração”.

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