sábado, 11 de outubro de 2014

Meu corpo, minhas regras?


Há algum tempo observo o atual movimento feminista com o slogan “Meu corpo, minhas regras”.
Esse slogan, muito usado pelo grupo “feminazi” e simpatizantes transmite a ideia de que somente a mulher pode ditar as regras de seu corpo. Ela pode se prostituir, pode matar o bebê que está dentro dela, pode se exibir da maneira que achar melhor, entre outras coisas, pois o corpo é da mulher e quem manda é a dona. O que muitos ainda não entendem é que não, não sou dona do meu corpo, não tenho poder sobre ele.
Aprendi isso do pior jeito: atropelada pelo caminhão da imprevisibilidade.  
As contingências da vida podem um belo dia amputar esse suposto poder.
Vou partilhar um pouco da minha experiência, que me fez sentir na carne (literalmente), o quanto esse slogan é falso.
Tive três acidentes de trânsito, TRÊIIIIIIIS!!
No primeiro eu perdi os movimentos da mão direita (temporariamente)
No segundo eu fiquei imobilizada da cintura pra cima (temporariamente)
No terceiro e mais grave, fiquei imobilizada do pescoço pra baixo (temporariamente).
Fui levada de ambulância para o hospital, acordei oito horas mais tarde da anestesia geral, ainda meio zonza olhei para o meu corpo e me vi costurada. Inconformada questionei: “Quem foi que deu autorização para me abrir?”.
“Meu corpo, as regras da medicina.” Os médicos tinham que me abrir para salvar a minha vida.
Durante a internação, a dor era imensa, o momento do banho me dava pânico, pois elevava a dor em níveis estratosféricos. Um dia cheguei a implorar “pelo amor de Deus, não me dê banho, eu não me importo em ficar suja, mas não me dê banho.”
“Meu corpo, as regras do hospital.” As enfermeiras tinham que me dar banho.
Durante um tempo, perdi completamente o controle do meu corpo, o controle dos movimentos, e até mesmo das necessidades fisiológicas.
“Meu corpo, as regras da fisiologia.” Eu tinha que me adaptar as circunstâncias, as limitações impostas.
Durante a recuperação física o lema era “meu corpo, as regras da fisioterapia.” Eu tinha que fazer determinados exercícios conforme as orientações da fisioterapeuta para recuperar os movimentos perdidos.
Em todos os acidentes tive uma boa recuperação, voltei a ter uma vida normal.
O meu corpo passou por cirurgia, foi aberto e costurado, perdeu autonomia, teve que fazer meses de fisioterapia, sentiu muita dor e eu aprendi que não ditava as regras, que NÃO PODIA fazer o que queria com ele. Não sou dona do meu corpo, nem de nada nessa vida.
“Meu corpo, regras do viver.”             
A ilusão do poder acaba quando nos deparamos com a fragilidade e a pequenez da existência humana.

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente texto, Márcia. Obrigado por compartilhar seus pensamentos sempre muito convenientes.

Nina disse...

Muito bom!!!