terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Morte: companheira de vida






              A Morte é minha amiga de infância, por isso não a temo. Medo da morte é fazer coisas e pensar no perigo de morrer, ou deixar de fazer algo pensando na provável morte. Instinto de sobrevivência é quando diante do risco de morte, tento fazer algo para preservar minha vida, todo ser humano é dotado desse instinto de salvar a própria vida.
            Eu não tenho medo de morrer, mas meu instinto de sobrevivência continua intacto. Faço questão de diferenciar instinto de sobrevivência do medo da morte, pois sei que muitos confundem esses dois conceitos.
             Minha juventude foi vivida intensamente, nos meus termos, do meu jeito. Foi repleta de aventuras e loucas histórias, se fosse um filme o título seria “Curtindo a vida adoidado”, tive uma vida bem vivida apesar das muitas experiências ruins.
            Só comecei a ter juízo a partir dos 26 anos aproximadamente. Antes disso fiz tudo o que tinha vontade, tudo o que as oportunidades me permitissem, procurei realizar todas as minhas vontades conforme as circunstâncias.
            Não tinha uma imagem de futuro na minha cabeça, não fazia a menor ideia de como seria minha vida de adulta, sim, eu tinha sonhos, mas eles pareciam tão distantes que considerava-os quase inatingíveis.
            Justamente por não ter uma imagem de futuro definida,  arriscava minha vida. Tentei morrer diversas vezes, pois uma vida inconsequente é sempre uma tentativa de suicídio.
            Lembro-me de quando criança ter a sensação de morte muito próxima, como uma espécie de presságio, me avisando que teria uma morte trágica. Cresci pensando em como seria a minha morte, talvez um grave acidente ou por afogamento, já que quase morri afogada ainda pequena. Acho que até me acostumei com a ideia de morte.
            Ao mesmo tempo, eu sentia o Sagrado, sem saber quem era. Não entendia como as coisas funcionavam, e não sabia dar nome ao que sentia. Estar em frente ao mar era o momento de conexão com o Sagrado. Sendo agnóstica, orava em frente ao mar, ao deus desconhecido. Talvez por causa do quase afogamento, o momento em que me sentia mais perto da morte e também mais perto de Deus era em frente ao mar.
            Hoje não tenho mais uma vaga sensação, sei que morrer significa ir para os braços do Pai, a morte é o caminho de encontro com o Senhor. Já desejei morrer algumas vezes, e agora com mais consciência de que morte é estar ao lado Daquele que me criou, não desejo mais. Ainda espero Ele me buscar, mas não procuro mais a morte como antes, descanso em Seus propósitos.
            Após ter passado perto Dela algumas vezes, sim, “eu vi a cara da Morte e ela estava viva”  como Cazuza disse. Agora sei que “a hora, o local e a razão” pertencem ao Senhor.
            Ele me convenceu de que tenho que fazer muita coisa antes de partir.
            Se não fosse essa convicção de missão a cumprir teria tentado o suicídio quando perdi minha subjetividade num período nefasto.
            Sem saber onde, quando e como a morte virá. Aguardo de forma um pouco mais sábia, tentando cumprir o que Ele designou pra mim.
            E o futuro? Bem, o futuro me reserva inúmeras oportunidades de fazer o que o Mestre mandou, realizar o meu chamado e fazer a diferença na vida das pessoas.
            E quando finalmente eu partir, espero que minha vida não seja só um amontoado de histórias, mas inspiração para alguém.

            “Porque o morrer é lucro e o viver é Dele"

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