O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, filme da
década de 80. Rob Lowe em começo de carreira, mas para mim o galã era Andrew McCarthy.
O título original era St. Elmo's Fire, nome do bar frequentado pela turma. Creio
que o título brasileiro combina bem com o enredo.
O filme começa com os sete amigos saindo da universidade,
no dia da formatura, com expectativas para a vida adulta. O primeiro dia da
vida adulta, o primeiro dia do resto da vida. Já formados se deparam com a dura
realidade do mundo fora do campus, conviver
com a insegurança profissional e emocional. Este novo momento pode pôr em risco
a amizade existente entre eles, que acreditavam que seria eterna. Ah, as
ilusões da juventude!
Após muitas aventuras e confusões juntos, a vida
começa a colocar cada um no seu caminho, como deve ser. O filme acaba sem
deixar claro qual seria a duração dessa amizade.
Assisti muitas vezes e foi marcante não só pra mim,
mas para muitas pessoas, é um clássico
da juventude nos anos 80. Quando assisti pelas primeiras vezes, ficava pensando em como seria a minha vida, a minha
geração na vida adulta, segundo as expectativas que se apresentavam.
Ficava imaginando se saberia lidar com os problemas;
trabalho, relacionamento amoroso, amizade, cogitava a hipótese de não conseguir
entrar para a faculdade ( já que era de classe baixa). Enfim todos os dilemas
que os personagens passavam, eu questionava como seria comigo e com meus
amigos.
Lembro-me que
no baile da minha formatura do (antigo) colegial, ao som de “Amigos para sempre”
eu disse para a amiga que estava ao meu lado: “Amigos para sempre nada, cada um
vai seguir sua estrada e perderemos o contato.” Para minha surpresa e contrariando
a previsão, essa pessoa é uma das minhas melhores amigas até hoje. Ela já confessou
que joguei um balde de água fria com minha declaração.
Há alguns dias voltei a ver esse filme, reafirmando
algumas angústias sobre a vida adulta e percebendo que o enredo não tinha nada
de novo. Bem, antes dele eu não conhecia esse tipo de roteiro, mas os anos
foram passando e os personagens foram apenas mudando de nome, o bar da turma
sempre foi o mesmo, com outro nome. E tudo sempre girou em torno de como se
tornar uma pessoa madura, como manter amizades verdadeiras ao longo da
caminhada, como não deixar que as cicatrizes da infância interfiram no relacionamento amoroso adulto.
A galera do St. Elmo's Fire passaram a frequentar o Peach
Pit. O elenco na década de 90 ainda não tinha entrado para a universidade, e
eram ricos de Beverly Hills, no Brasil eles
ficaram conhecidos como Barrados no Baile. A história dessa turma durou dez
anos, tempo suficiente para relacionamentos amorosos entre os integrantes da
turma com direito a traição e rodízio, o seriado abordou (creio) todos os temas
que norteiam a juventude; separação dos pais, gravidez indesejada, morte,
casamento, separação, dúvidas sobre carreira, ter/não ter filhos, drogas, suicídio,
vida sexual, aborto, virgindade etc.
Enquanto Barrados no Baile ainda
era um grande sucesso, apareceu outra turma que também ficaria por dez anos.
Desta vez acrescentaram o ingrediente humor para uma receita bastante
conhecida. Amigos que estudaram juntos, e já formados continuaram a convivência
na vida adulta. Desta vez não mudaram o nome, aos amigos ficaram conhecidos no
Brasil como Friends mesmo.
Não preciso falar muito sobre esse
seriado de estrondoso sucesso, todos conhecem. Só lembrar que o ponto de encontro
ainda esta lá, o bar tornou-se um café, o Central Perk. Friends é sobre sexo,
amor, relacionamentos, carreira, um momento em sua vida quando tudo é possível,
e é sobre amizade principalmente.
Somente numa fase como essa é que
suportamos coisas das quais creio que na vida adulta já não toleramos mais. Tornamos-nos
ranzinzas. Será que aos 45 anos de idade levaríamos na boa conviver com um
amigo infantil como o Joey? Uma mulher realmente madura não toleraria que no
meio de uma crise séria sua amiga ficasse falando de moda como a Rachel. A
verdade é que exceto o humor, que foi
uma sacada genial em Friends, todos os roteiros retrataram a Geração X.
Ainda somos os mesmos, querendo ter
um vínculo real e duradouro, desejando ter pessoas com quem podemos contar em
qualquer circunstância, ligar às 3 da manhã, bater na porta da casa sem avisar,
magoar e sermos magoados sem que isso afete a essência do relacionamento. A
questão é que tudo isso agora me parece utópico.
O pós-modernismo apresentou-me os
relacionamentos líquidos, volúveis, em que se começa e se desfaz uma amizade
com apenas um clique. Tão simples, tão superficial, tão ilusório!
Posso dizer que tive bons amigos em
minha vida, tive turmas realmente unidas, tive momentos hilariantes, vivi
histórias inesquecíveis. No entanto acho que nunca tive uma turma como essas,
não por um longo período. No fundo acho que crescer é isso, aprender que a juventude só vive uma vez e o
que você pode fazer com ela é adquirir sabedoria e guardar lembranças.
O resto
é roteiro cinematográfico.
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