Na infância é um pouco comum uma criança
cair e quebrar o braço, entre uma brincadeira e outra. No final das contas há
criança que se diverte com aquele gesso sendo rabiscados pelos amigos.
Já quebrei alguns ossos, e aprendi que
osso quebrado é para sempre. Mesmo voltando ao lugar, mesmo colando, mesmo com
muita fisioterapia, ele continua quebrado. Não há nada que faça voltar como era
antes, é como a porcelana, podemos colar, mas a marca da quebra fica. No caso
do osso, a marca é invisível a olho nu, uma radiografia nos mostra a cicatriz.
Com criança é diferente (ouvi dizer), o
osso “cola” rapidamente e normalmente se regenera sem cicatriz, pois está em
desenvolvimento. No sei como é isso, quebrei meus ossos quando já era adulta,
azar o meu.
Aparentemente ninguém diz que fui
quebrada. Só eu sinto as marcas da fratura, de vez em quando uma fisgada, uma
dificuldade em andar, são lembranças de algo que não deu certo. Precisei de
muita fisioterapia.
Coisas imateriais também quebram,
podemos “quebrar a cara” quando mergulhamos de forma intensa num
relacionamento, quebramos a confiança quando não cumprimos a palavra dada,
tantas coisas podem ser quebradas e doem, doem tanto quanto o osso, quando a
quebra vem de alguém que amamos.
Quebrar relações significativas é uma
das dores mais intensas, sangra, abre chagas profundas que demoram a se curar,
algumas não curam nunca.
Assim como acontece com os ossos, as
outras fraturas podem deixar marcas, a fisioterapia consiste no perdão, no
reconhecimento de que todos somos pecadores, que as pessoas que amamos também
são passíveis de erros irreversíveis. O perdão nos ajuda a tratar as feridas,
olhar com misericórdia nossos erros (meu e do outro) nos faz mais compassivos e
ajuda amenizar a dor.
Embora nem sempre seja possível curar
todas as feridas, e as cicatrizes nos lembrem da dor vivenciada; ainda é
possível viver, ter um propósito e deixar um legado.
Assim como meus ossos fraturados não me
impedem de caminhar; as outras fraturas não me impedem de amar, perdoar, ter
misericórdia e compaixão.
Que possamos estar em constante
fisioterapia das coisas quebradas em nossas vidas.
Não deixe as “fraturas” empedrar o
coração.
Um coração quebrantado está além das “fraturas”.
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