sábado, 8 de março de 2014

Confissão de uma cristã paradoxal


Sou uma boa pessoa. É isso que quero ser e quero que as pessoas pensem.
Quero controlar os maus impulsos e ser cada dia melhor.
Ser amável e generosa, quero ser alento para quem precisa ser salvo da ira, do ressentimento, da tristeza de um dia mau.
Quero amenizar a dor de alguém com palavras de conforto.
Quero todos os dias só pensar no que é verdadeiro, puro e justo.
Quero ser abrigo, ombro e colo.
Quero agradecer por tudo que possuo, pois sei que tenho mais do que mereço.
Quero ter boas palavras nos lábios, bons pensamentos na mente e bons sentimentos no coração, o tempo todo!
Mas não consigo, não consigo!
Ao tentar passar pela porta estreita, fico emperrada em minha humanidade e egoísmo.
Miserável criatura! O mal que eu não quero fazer, eu faço. O bem que quero, não faço.
Prefiro sentir inveja daqueles que têm o que eu gostaria de ter.
Escolho me afastar de pessoas que me ferem repetidamente em vez de um diálogo restaurador. Sinceramente, sair de cena é tão mais confortável!
Dominada pela preguiça deixo coisas importantes por fazer e pela procrastinação deixo pessoas preciosas de lado.
Sou cristã, e não, não sou uma boa pessoa. Minhas (pretensas) boas ações são uma forma de maquiar minha humanidade (maldade).
Vou à igreja, não tem ninguém, os bancos lotados, ninguém para caminhar ao meu lado.
Sou eu quem precisa de abrigo, colo e ombro.
Sinto-me só em meio a multidão, melancólica ao ver tanto riso frívolo.
Estou cheia de conversas vazias!
Em busca do “ser” tenho como companhia constante: a queda.
Tropeçando em minhas próprias contradições, desanimo do bom testemunho.
Sem conseguir ser sal, nem luz, sou convencida de que ser piedosa é utopia.
À beira do abismo, continuo desejosa de me tornar alguém melhor, de fazer tudo o que consta na lista de boas pessoas.
E antes que minha alma desabe, lembro daquilo que me dá esperança.
A esperança de continuar ser discípula apesar das limitações, porque acima das minhas incoerências está a bondade do Senhor.
Sua infinita misericórdia me resgata do precipício da perfeição.

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