sábado, 22 de março de 2014

O ferido que fere


Há algo nesse mundo que me deixa muito triste, é o ferido que fere.
A pessoa que foi machucada e por isso acaba machucando os outros, sai por aí com sua “metralhadora cheia de mágoas”, atirando para todos os lados, acertando inocentes com balas perdidas, às vezes pessoas que nada tem a ver com seu passado.
O ferido que fere existe em diversos âmbitos, no religioso também; são os antirreligiosos, como os ateus, agnósticos, ex-evangélicos, deístas, entre outros que foram alvo de impropérios por causa da ignorância ou falta de bom senso mesmo de pessoas do meio religioso.
Confesso que faço parte dessa triste estatística dos “feridos em nome de Deus”, porém me policio para não fazer aos outros o que já fizeram comigo, pois fui agnóstica a maior parte da minha vida e cansei de ser chamada de impia, gente “sem Deus no coração” e outras coisas do gênero, e mesmo depois de convertida ouvi coisas bem desagradáveis. Por isso peço desculpas antecipadas àqueles que se identificarem no texto.
Conheço muitos antirreligiosos, alguns são ex-evangélicos, pessoas que abandonaram a igreja, passaram circunstâncias dolorosas na instituição, foram negligenciados em suas necessidades espirituais, e feridos.
Esses antirreligiosos fazem uma intensa propaganda contra a fé e as instituições, disparam seu ressentimento em forma de escárnio, destilam veneno em cada comentário. Adoram usar aqueles que pisam na bola para demonizar a fé, usam o sarcasmo constantemente, sádicos que tem prazer em depreciar as pessoas e ridicularizar a fé cristã.
Muitas vezes, acabam atingindo outros ao seu redor, porque quando eu falo mal de um determinado segmento, indiretamente atinjo quem faz parte dele. Certamente seu eu falar mal do movimento ateísta (por exemplo), pode ser que algum ateu se sinta atingido, e a relação fica comprometida, pois nem todos sabem separar de forma saudável uma coisa da outra. Já vi pessoas enfraquecerem e até perderem amizades por causa de posicionamentos intolerantes, tanto de um lado, quanto de outro.
Agora falando de forma mais pessoal, não fico triste por mim, as criticas que vejo não atingem a minha fé, eu sei em quê tenho crido e ainda mais em Quem eu tenho crido.
O que realmente me deixa triste, é ver pessoas que não superaram sua dor, não se libertaram dos seus carrascos. “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você” já dizia Jean Paul Sartre. Lamentavelmente muitos que foram feridos pelos religiosos tornaram-se cínicos.
O antirreligioso se diz um defensor da liberdade, usa como máscara o pluralismo e relativismo para disfarçar suas mágoas com a religião, pois esta não lhe deu as respostas que precisava.
Pelo fato de tanto atacar, acaba também sendo contra atacado pelos defensores da fé que valorizam mais sua crença do que o ser humano. Como o próprio nome sugere, apologética se faz com ética, no entanto e infelizmente, muitos crentes ainda usam a Palavra para ferir, e não para curar.
Sim “...a Palavra de Deus é  viva e eficaz, e mais penetrante do que espada, e penetra até a divisão da alma e do espirito...” E assim como uma faca não deve ser manuseada por uma criança pequena, a Palavra  que é mais penetrante que qualquer objeto cortante, se mal utilizada pode causar grandes danos a Cristandade. Então lembre-se, quem penetra o coração do outro é a Palavra, e não você (crente) que em nome da Verdade, a usa para ferir as pessoas.
E isso se torna um círculo vicioso, o ferido acaba ferindo a si e aos outros na tentativa de dar o troco, mesmo quando é  “sem intenção”.
Quem vai pôr fim nesse círculo?




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