Certa vez machuquei o joelho numa queda. Estava na rua e caí, o joelho
bateu forte no asfalto e começou a sangrar. Não conseguia andar por causa da
dor, um rapaz me ajudou levando-me até
um banco na praça bem em frente do local da queda.
Assim que sentei, olhei para o joelho e vi um buraco sangrando muito, a
única coisa que tinha em minha bolsa para tentar segurar o sangramento era
papel higiênico, mas ele logo ficava encharcado, pois sangrava muito. O moço
que me ajudou antes de seguir seu caminho deixou um esparadrapo comigo,
coloquei um monte de papel higiênico e enrolei com esparadrapo, ali mesmo no
banco na praça. Passado alguns minutos e um pouco do nervoso de ver tanto
sangue (sim sou dessas) vi uma farmácia bem em frente a praça.
Com muita dificuldade caminhei, mancando e com dor até lá, expliquei o
que havia acontecido e pedi que fizessem um curativo. A atendente disse que não
podia, ainda tentei convencer outro atendente, sem sucesso. Disseram que era
proibido por lei fazer curativo em farmácia e falaram para ir ao hospital.
Fiquei bem chateada, pois mal conseguia andar, estava com o dinheiro da
passagem contado; portanto não poderia ao menos chamar um Uber. O hospital mais
próximo ficava há três quarteirões, distância curta para quem está saudável,
não para mim que mal conseguia andar.
Ainda permanecei algum tempo no ponto de ônibus tentando decidir se
deveria tentar caminhar até o hospital ou ir direto pra casa. Tenho uma vizinha
que trabalha na área da saúde, e poderia pedir pra ela fazer o curativo quando
chegasse do trabalho.
Não consegui ir ao hospital, fiz eu mesmo o curativo quando cheguei em
casa.
Fiquei pensando nos atendentes da farmácia que não só se recusaram a
fazer o curativo, afinal era proibido, como também não pensaram em me vender os
itens para que eu mesmo fizesse. Simplesmente disseram “não é permitido”, sem
empatia, sem nenhuma recomendação, a única sugestão foi “vá ao hospital”.
Funcionários exemplares, cumpridores da lei, orgulhos do patrão. Fizeram sua
obrigação, seu dever de casa.
Quantas vezes agimos assim? Ficamos do lado da “lei”, do pode ou não
pode, valorizamos as regras e não pessoas?
Nesse caso não era algo muito grave, que gerasse consequências sérias a
longo prazo, a questão é: como discernir quando devo abrir mão da lei, do
estatuto em favor do ser humano?