Antes de mais
nada quero começar falando de relacionamento, mais precisamente do meu
relacionamento paterno. Deixo como principio de conversa uma suposição. Meu pai
é alguém que eu amo demasiadamente, tenho lembranças boas de nosso
relacionamento de mais de 30 anos. Quando ele se for, nem consigo imaginar a
dor. Agora imagine se nessa altura da vida, eu descobrisse que a identidade
dele é falsa, que se passa por outra pessoa. Alguém me entrega um dossiê que
contém provas da sua real identidade, tem outro nome, outra cidadania, que ele
teve uma vida totalmente diferente do que conheço. Neste dossiê consta que meu
pai foi um agente do governo dos anos de chumbo, infiltrado entre os rebeldes,
repassando informações dos grupos para a policia repressora. Por causa dele, muita gente foi presa,
torturada e morta.
Com certeza eu ficaria muito triste
e decepcionada, achando que toda essa farsa, outro nome, uma vida oculta, não
merecesse perdão. Depois de certo tempo, magoada pela mentira, a constatação
seria que apesar dessa outra vida, ele continua sendo meu pai, me criou,
portanto é impossível descartar nosso relacionamento por causa de erros
cometidos, dos quais eu não conhecia. E essa descoberta com toda a certeza não
seria capaz de mudar o amor que sinto pelo meu pai e tampouco apagaria tudo que
vivemos.
Agora passemos a segunda parte da
conversa, no final essa introdução fará sentido.
Eu sou cristã e me relaciono com
pessoas de diversas crenças (umbandistas, espíritas, TJ, católicos etc.) e
também com ateus, agnósticos e hereges. Frequentemente sou questionada sobre a
veracidade da bíblia. As acusações são inúmeras. Dizem que o livro sagrado não
é tão sagrado assim. Séculos depois da primeira publicação, de tempos em tempos
surge estudos e novas traduções reavivando as polêmicas que envolvem supostas
manipulações na Bíblia.
O texto bíblico é uma tradução e se
o tradutor errou, a mensagem também está errada. Sem contar as distorções dos
textos a fim de fundamentar uma doutrina.
Ainda há de se considerar as contradições e a linguagem cifrada cheia de
metáforas e alegorias. Essas contradições dão margem a reinterpretações. Com
todos esses argumentos, a conclusão é que esses tais livros não são dignos de credibilidade.
Um dos assuntos mais tensos entre os
céticos e os crentes é sobre os erros que a bíblia pode conter, a inerrância
bíblica é um tema bem debatido.
Algumas outras questões são
clássicas. Adão e Eva comeram mesmo de um fruto proibido ou é apenas uma
metáfora? Porque a bíblia não fala dos dinossauros, a era do gelo e seres
extraterrestres?
A bíblia tem uma série de lacunas, e
os céticos se apegam a isso.
Pra mim é muito engraçado estes
questionamentos, pois na maioria das vezes o intuito do questionamento é abalar
a minha fé, a lógica é: se derrubar a veracidade da bíblia derruba-se a fé
existente. Ledo engano caros céticos, uma vez que minha fé não é fruto da
bíblia. Minha fé nasceu de um encontro sobrenatural, vem de um relacionamento
com Deus, de um caminhar com Jesus. E sim a bíblia tem um papel fundamental,
pois ela me alimentou quando nasci em Cristo e alicerçou minha fé. Pode parecer
contraditório dizer que minha fé não veio da bíblia, mas foi aprofundada com
ela. Então eu explico.
Creio que a bíblia seja mesmo a
Palavra de Deus, independente de haver erros de traduções e manipulações
doutrinarias. Cada vez que a veracidade da Palavra é questionada, faço o
exercício de conjecturas, vem comigo.
Vamos fazer algumas hipóteses, vamos
supor que os ateus tenham razão. A bíblia é um grande engano, Jesus não
existiu, nunca houve morte na cruz, muito menos ressurreição; Ok aceito esses
argumentos como válidos, já que ninguém tem provas incontestáveis.
Assim como nos filmes e livros de
ficção, as pessoas tiram ensinamentos das histórias que vê ou lê, a bíblia
sendo um livro composto por diversos outros livros tem muitas histórias e
ensinamentos. Supondo que seja apenas um conto de fadas como os neo ateus
dizem, só o fato de ter histórias no mínimo interessantes e ensinamentos
preciosos, ela já pode ser considerada um “Best seller”. E isso ninguém pode
negar, aliás, nenhuma pessoa poderá negar que a bíblia tem boas histórias e
ensinamentos importantes, seja qual for sua crença.
E agora posso falar sobre meu encontro com o
Sagrado. Antes de conhecer o mundo espiritual pode-se dizer que fui doutrinada,
isto é, tive ensinos bíblicos e aprendi diversas teorias das doutrinas cristãs.
Achava o livro sagrado muito bom, uma boa literatura, um livro que dava conselhos
de como viver bem comigo e com os outros e falava de como superar as
dificuldades impostas pela vida, realmente um livro excelente! É assim que
muitos ainda vêem a bíblia, inclusive cristãos.
O Eterno abriu meus olhos
espirituais e aqueles textos passaram a ter um significado diferente, não só
para o mundo físico e presente, mas do mundo espiritual, do passado e do
futuro. Comecei a compreender as palavras da bíblia não só como um manual de
instruções para a vida, mas como o elo de comunicação com o Divino, a forma que
Ele escolheu para demonstrar seu amor e cuidado comigo.
Meu pai terrestre me comunicou seu
amor de muitas formas; instruindo-me, me sustentando financeiramente, me dando
conselhos e diversas outras maneiras que fizeram que nosso relacionamento se
fortalecesse a cada dia. Hoje é um laço indissolúvel.
Assim
como o pai terrestre tem seu jeito de dizer que me ama, o Pai escolheu a bíblia
como uma das formas para comunicar seu amor. Afinal todos os ensinamentos que
tive por meio dela é uma forma Dele transmitir seu cuidado. E o mais
importante, se não fosse a bíblia eu não conheceria a história do meu Salvador.
Foi esse conhecimento por meio da leitura bíblica que me proporcionou uma
relação mais íntima com o Mestre. A bíblia então é um canal de comunicação
entre eu e o Pai, nosso relacionamento cresceu, amadureceu e se solidifica a
cada dia por influência das Escrituras.
Então independente de qualquer
coisa, dos erros que esse livro possa ter, eu creio que é sim a Palavra de
Deus. Foi por meio dela que Deus me revelou coisas essenciais sobre a minha
pessoa, minha vida (passado, presente e futuro) e principalmente sobre Deus
Pai, Filho e Espírito Santo.
É por meio dela que o Eterno se
relaciona comigo, e nada pode ser maior do que esse relacionamento.
Assim como nenhum erro nem nada pode
diminuir o amor que sinto por meu pai terrestre e apagar o relacionamento que
tive com ele durante toda a vida; nada, nem nenhum erro bíblico pode diminuir o
amor que sinto por Cristo, pois esse amor é fruto de relacionamento que gera
uma confiança inabalável.
“Quem me separará do amor de Cristo? A
tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o
perigo, ou a espada? […] Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o
porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá
separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos
8:35-39)
Para o argumento de “fé cega”, minha
resposta é: fé sólida construída em um relacionamento íntimo com o Pai.