terça-feira, 23 de julho de 2013

O pai e o Pai


     Antes de mais nada quero começar falando de relacionamento, mais precisamente do meu relacionamento paterno. Deixo como principio de conversa uma suposição. Meu pai é alguém que eu amo demasiadamente, tenho lembranças boas de nosso relacionamento de mais de 30 anos. Quando ele se for, nem consigo imaginar a dor. Agora imagine se nessa altura da vida, eu descobrisse que a identidade dele é falsa, que se passa por outra pessoa. Alguém me entrega um dossiê que contém provas da sua real identidade, tem outro nome, outra cidadania, que ele teve uma vida totalmente diferente do que conheço. Neste dossiê consta que meu pai foi um agente do governo dos anos de chumbo, infiltrado entre os rebeldes, repassando informações dos grupos para a policia repressora.  Por causa dele, muita gente foi presa, torturada e morta.     
            Com certeza eu ficaria muito triste e decepcionada, achando que toda essa farsa, outro nome, uma vida oculta, não merecesse perdão. Depois de certo tempo, magoada pela mentira, a constatação seria que apesar dessa outra vida, ele continua sendo meu pai, me criou, portanto é impossível descartar nosso relacionamento por causa de erros cometidos, dos quais eu não conhecia. E essa descoberta com toda a certeza não seria capaz de mudar o amor que sinto pelo meu pai e tampouco apagaria tudo que vivemos.
            Agora passemos a segunda parte da conversa, no final essa introdução fará sentido.
            Eu sou cristã e me relaciono com pessoas de diversas crenças (umbandistas, espíritas, TJ, católicos etc.) e também com ateus, agnósticos e hereges. Frequentemente sou questionada sobre a veracidade da bíblia. As acusações são inúmeras. Dizem que o livro sagrado não é tão sagrado assim. Séculos depois da primeira publicação, de tempos em tempos surge estudos e novas traduções reavivando as polêmicas que envolvem supostas manipulações na Bíblia.
            O texto bíblico é uma tradução e se o tradutor errou, a mensagem também está errada. Sem contar as distorções dos textos a fim de fundamentar uma doutrina.  Ainda há de se considerar as contradições e a linguagem cifrada cheia de metáforas e alegorias. Essas contradições dão margem a reinterpretações. Com todos esses argumentos, a conclusão é que esses tais livros não são dignos de credibilidade.
            Um dos assuntos mais tensos entre os céticos e os crentes é sobre os erros que a bíblia pode conter, a inerrância bíblica é um tema bem debatido.
           Algumas outras questões são clássicas. Adão e Eva comeram mesmo de um fruto proibido ou é apenas uma metáfora? Porque a bíblia não fala dos dinossauros, a era do gelo e seres extraterrestres?
            A bíblia tem uma série de lacunas, e os céticos se apegam a isso.
      Pra mim é muito engraçado estes questionamentos, pois na maioria das vezes o intuito do questionamento é abalar a minha fé, a lógica é: se derrubar a veracidade da bíblia derruba-se a fé existente. Ledo engano caros céticos, uma vez que minha fé não é fruto da bíblia. Minha fé nasceu de um encontro sobrenatural, vem de um relacionamento com Deus, de um caminhar com Jesus. E sim a bíblia tem um papel fundamental, pois ela me alimentou quando nasci em Cristo e alicerçou minha fé. Pode parecer contraditório dizer que minha fé não veio da bíblia, mas foi aprofundada com ela. Então eu explico.
            Creio que a bíblia seja mesmo a Palavra de Deus, independente de haver erros de traduções e manipulações doutrinarias. Cada vez que a veracidade da Palavra é questionada, faço o exercício de conjecturas, vem comigo.
            Vamos fazer algumas hipóteses, vamos supor que os ateus tenham razão. A bíblia é um grande engano, Jesus não existiu, nunca houve morte na cruz, muito menos ressurreição; Ok aceito esses argumentos como válidos, já que ninguém tem provas incontestáveis.
            Assim como nos filmes e livros de ficção, as pessoas tiram ensinamentos das histórias que vê ou lê, a bíblia sendo um livro composto por diversos outros livros tem muitas histórias e ensinamentos. Supondo que seja apenas um conto de fadas como os neo ateus dizem, só o fato de ter histórias no mínimo interessantes e ensinamentos preciosos, ela já pode ser considerada um “Best seller”. E isso ninguém pode negar, aliás, nenhuma pessoa poderá negar que a bíblia tem boas histórias e ensinamentos importantes, seja qual for sua crença.
             E agora posso falar sobre meu encontro com o Sagrado. Antes de conhecer o mundo espiritual pode-se dizer que fui doutrinada, isto é, tive ensinos bíblicos e aprendi diversas teorias das doutrinas cristãs. Achava o livro sagrado muito bom, uma boa literatura, um livro que dava conselhos de como viver bem comigo e com os outros e falava de como superar as dificuldades impostas pela vida, realmente um livro excelente! É assim que muitos ainda vêem a bíblia, inclusive cristãos.
            O Eterno abriu meus olhos espirituais e aqueles textos passaram a ter um significado diferente, não só para o mundo físico e presente, mas do mundo espiritual, do passado e do futuro. Comecei a compreender as palavras da bíblia não só como um manual de instruções para a vida, mas como o elo de comunicação com o Divino, a forma que Ele escolheu para demonstrar seu amor e cuidado comigo.
     Meu pai terrestre me comunicou seu amor de muitas formas; instruindo-me, me sustentando financeiramente, me dando conselhos e diversas outras maneiras que fizeram que nosso relacionamento se fortalecesse a cada dia. Hoje é um laço indissolúvel.
          Assim como o pai terrestre tem seu jeito de dizer que me ama, o Pai escolheu a bíblia como uma das formas para comunicar seu amor. Afinal todos os ensinamentos que tive por meio dela é uma forma Dele transmitir seu cuidado. E o mais importante, se não fosse a bíblia eu não conheceria a história do meu Salvador. Foi esse conhecimento por meio da leitura bíblica que me proporcionou uma relação mais íntima com o Mestre. A bíblia então é um canal de comunicação entre eu e o Pai, nosso relacionamento cresceu, amadureceu e se solidifica a cada dia por influência das Escrituras.
        Então independente de qualquer coisa, dos erros que esse livro possa ter, eu creio que é sim a Palavra de Deus. Foi por meio dela que Deus me revelou coisas essenciais sobre a minha pessoa, minha vida (passado, presente e futuro) e principalmente sobre Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
        É por meio dela que o Eterno se relaciona comigo, e nada pode ser maior do que esse relacionamento.
      Assim como nenhum erro nem nada pode diminuir o amor que sinto por meu pai terrestre e apagar o relacionamento que tive com ele durante toda a vida; nada, nem nenhum erro bíblico pode diminuir o amor que sinto por Cristo, pois esse amor é fruto de relacionamento que gera uma confiança inabalável.
         Quem me separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? […] Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 8:35-39)
       Para o argumento de “fé cega”, minha resposta é: fé sólida construída em um relacionamento íntimo com o Pai.       

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