quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A pessoalidade do bebê



Sei que pode parecer irreal, mas um bebê me deu uma lição de moral e  confirmou o que já conhecia em teoria, o bebê é uma pessoa. Como é lindo vivenciar o que tanto li em livros de filosofia e teologia, uma experiência que reafirmou a dignidade ontológica do ser humano.
O Titi tem um ano e meio, é um bebê adorável e bem educado.  A fala dele está em desenvolvimento, isto é, ainda não pronuncia palavras inteiras. Vejo o Titi uma vez por semana e gosto muito de brincar com ele.
Entre uma brincadeira e outra, às vezes faço alguma provocação como tirar a chupeta ou pegar alguma coisa com a qual ele está brincando. A provocação tem o intuito de chamar a atenção e interagir, principalmente quando ele está mais quietinho.  Existe certo prazer em provocá-lo e observar sua reação em diferentes situações.
Um dia, enquanto ele ficava de um lado para o outro com um habitual copo de plástico, fiz mais uma provocação. Sua mãe deixa em suas mãos um copinho descartável com biscoitos de polvilho, creio que é uma maneira de distrai-lo e ao mesmo tempo impedir que ele peça/pegue outras coisas para comer (só acho).
Cheguei e peguei de surpresa um biscoito do copinho, coloquei rapidamente na boca e fiquei mastigando bem na sua frente.  O Titi apesar de não falar, é um bebê extremamente expressivo, você sabe exatamente o que ele “pensa” por meio da expressão facial.
Nesse momento, enquanto mastigava o biscoito que peguei do seu copinho, ele me olho feio, fez uma cara em que dizia: “Sua mal educada, quem você pensa que é pra meter a mão no meu copinho e roubar meu biscoito?”.
Em seguida colocou o dedinho em minha boca na tentativa de pegar de volta seu biscoito, como quem diz “devolve, é meu!”.
O que era pra ser uma mera provocação se tornou uma lição, vou explicar.
Normalmente as pessoas tem o hábito de tratar os bebês como se fossem objetos/ bonecos; beija, aperta, põe chupeta, tira chupeta, brinca, faz careta, pega no colo, rodopia; enfim tratamos os bebês e esquecemos que são pequenos seres humanos.
Como ser humano, um bebê também tem vontades, desejos, limites, é capaz de pensar (conforme suas limitações), comunicar, possui consciência moral e emoções, entre outras coisas.
Ao negligenciar isso estamos negando a dignidade do bebê como ser humano.
O Titi deixou claro que não gostou da minha atitude, ultrapassei os limites ao pegar o biscoito sem sua permissão. Fiquei com a consciência pesada, me arrependi, pois sabia que tinha agido mal; afinal eu não faria a mesma coisa com um adulto, então também não deveria fazer com um bebê.
O Titi não é uma criança egoísta, do tipo que se recusa a repartir o brinquedo ou dividir o que está comendo, por essa razão ficou muito claro que ele “brigou” comigo pela atitude invasiva e não pelo biscoito em si. Ele já tem noção de limites, de certo e errado.
Tentei me retratar, algum tempo depois fiquei brincando de um jeito que sei que ele gosta e o levei para “passear”.  Ele (acho) esqueceu minha falta de educação e além de brincar, me deu seus biscoitos sem que eu pedisse.  
O pior é que não é a primeira vez que sou invasiva com ele; certa vez ao cumprimenta-lo, agarrei-o e beijei-o sem que ele estivesse disposto. Resultado: se afastou e me olhou bem feio com direito a careta.
Espero ter aprendido a lição e levar mais a sério a pessoalidade do Titi e de todos os bebês.
Logo eu!


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