Sei que pode parecer irreal, mas um bebê
me deu uma lição de moral e confirmou
o que já conhecia em teoria, o bebê é uma pessoa. Como é lindo vivenciar o que
tanto li em livros de filosofia e teologia, uma experiência que reafirmou a
dignidade ontológica do ser humano.
O Titi tem um ano e meio, é um bebê
adorável e bem educado. A fala dele está
em desenvolvimento, isto é, ainda não pronuncia palavras inteiras. Vejo o Titi
uma vez por semana e gosto muito de brincar com ele.
Entre uma brincadeira e outra, às vezes
faço alguma provocação como tirar a chupeta ou pegar alguma coisa com a qual
ele está brincando. A provocação tem o intuito de chamar a atenção e interagir,
principalmente quando ele está mais quietinho.
Existe certo prazer em provocá-lo e observar sua reação em diferentes
situações.
Um dia, enquanto ele ficava de um lado
para o outro com um habitual copo de plástico, fiz mais uma provocação. Sua mãe
deixa em suas mãos um copinho descartável com biscoitos de polvilho, creio que
é uma maneira de distrai-lo e ao mesmo tempo impedir que ele peça/pegue outras
coisas para comer (só acho).
Cheguei e peguei de surpresa um biscoito
do copinho, coloquei rapidamente na boca e fiquei mastigando bem na sua
frente. O Titi apesar de não falar, é um
bebê extremamente expressivo, você sabe exatamente o que ele “pensa” por meio
da expressão facial.
Nesse momento, enquanto mastigava o
biscoito que peguei do seu copinho, ele me olho feio, fez uma cara em que
dizia: “Sua mal educada, quem você pensa que é pra meter a mão no meu copinho e
roubar meu biscoito?”.
Em seguida colocou o dedinho em minha
boca na tentativa de pegar de volta seu biscoito, como quem diz “devolve, é
meu!”.
O que era pra ser uma mera provocação se
tornou uma lição, vou explicar.
Normalmente as pessoas tem o hábito de
tratar os bebês como se fossem objetos/ bonecos; beija, aperta, põe chupeta,
tira chupeta, brinca, faz careta, pega no colo, rodopia; enfim tratamos os
bebês e esquecemos que são pequenos seres humanos.
Como ser humano, um bebê também tem
vontades, desejos, limites, é capaz de pensar (conforme suas limitações),
comunicar, possui consciência moral e emoções, entre outras coisas.
Ao negligenciar isso estamos negando a
dignidade do bebê como ser humano.
O Titi deixou claro que não gostou da
minha atitude, ultrapassei os limites ao pegar o biscoito sem sua permissão. Fiquei
com a consciência pesada, me arrependi, pois sabia que tinha agido mal; afinal
eu não faria a mesma coisa com um adulto, então também não deveria fazer com um
bebê.
O Titi não é uma criança egoísta, do
tipo que se recusa a repartir o brinquedo ou dividir o que está comendo, por
essa razão ficou muito claro que ele “brigou” comigo pela atitude invasiva e
não pelo biscoito em si. Ele já tem noção de limites, de certo e errado.
Tentei me retratar, algum tempo depois
fiquei brincando de um jeito que sei que ele gosta e o levei para “passear”. Ele (acho) esqueceu minha falta de educação e
além de brincar, me deu seus biscoitos sem que eu pedisse.
O pior é que não é a primeira vez que
sou invasiva com ele; certa vez ao cumprimenta-lo, agarrei-o e beijei-o sem que
ele estivesse disposto. Resultado: se afastou e me olhou bem feio com direito a
careta.
Espero ter aprendido a lição e levar
mais a sério a pessoalidade do Titi e de todos os bebês.
Logo eu!
Um comentário:
Que texto legal.
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