domingo, 3 de novembro de 2013

O acidente



         O meu primeiro acidente mudou minha vida, mas o último me transformou de uma maneira singular. Eu chamo esse período de “Minha Cabana” em alusão ao livro de Willian Paul Young, e a Grande Tristeza é a protagonista da minha Cabana.
     Demorei um ano e meio para conseguir sair da Cabana, deixar a Grande Tristeza partir, os desdobramentos do acidente foram devastadores, por hora vou apenas contar como foi o acidente.
Era uma segunda-feira, saí de casa por volta das 6:30 h da manhã como de costume para trabalhar, meu trajeto incluía diversas ruas com grande movimento, também passava por uma estrada que liga a minha cidade à São Paulo.
      Andava no corredor como todos os motociclistas, desta vez estava sozinha no corredor, ninguém na frente ou atrás de mim, o trânsito estava muito intenso, normal para o horário, as duas faixas praticamente paradas, eu seguia no corredor, minha velocidade média era entre 70 e 80 Km/h, já que o limite na rodovia era de 90/110 Km/h, portanto não estava correndo como alguns disseram, muito menos acima da velocidade permitida. Era um velocidade normal para a rodovia e o trânsito, porém uma velocidade alta para imprevistos.
      Um carro saiu repentinamente de sua faixa para entrar na outra, não havia espaço para ele na outra faixa, o carro ficou atravessado no corredor, quando percebi já não dava tempo de frear, a reação automática foi tentar contornar o veículo pela parte de trás para voltar ao corredor. Nessa tentativa de retornar ao corredor bati no veículo seguinte pois não havia nenhum espaço para passar. Ao bater no veiculo, literalmente voei, fui jogada da moto, caí alguns metros adiante, o capacete saiu da minha cabeça enquanto voava, bati com força no asfalto.
      Não me recordo do exato momento da batida, acho que é normal, li em algum lugar que essa amnésia é uma defesa da mente. Não lembramos aquilo que não podemos suportar, assim diz a psicologia.
      Assim que dei por mim, estava no chão, literalmente quebrada, a reação automática nesses casos é tentar se levantar, mas eu não conseguia me mexer. Um monte de pessoas à minha volta falando comigo ao mesmo tempo, parecia que eu estava fora de mim. Um motociclista veio falar comigo, colocou um papel dentro do bolso da minha jaqueta e disse que era a placa do carro que me fechou, uma atitude solidária.
      Havia uma policial com uma prancheta anotando meus dados, acho que era um pré Boletim de Ocorrência, perguntou meu nome completo, endereço e outros dados pessoais, certificando-se de que eu estava consciente e tentando me manter acordada. Era uma situação estranha, estatelada no asfalto, quebrada e respondendo dados pessoais, enfim, era o trabalho dela. Um policial rodoviário chegou em mim e perguntou: quem tirou o capacete da sua cabeça? Eu respondi: ninguém, mas não consegui explicar o motivo de estar caída sem capacete. Ele também perguntou se eu gostaria de avisar, ligar para alguém, ele estava com o meu celular na mão, enquanto isso ouvia as pessoas falarem sobre a chamada do resgate e sobre as causas do acidente. Respondi ao policial: liga para o Paulo Rodolfo, era o nome do gerente de onde trabalhava, o policial tentou ligar, o Paulo não atendeu, então disse: tenta o Paulo César (um colega de trabalho) e avisa que não vou poder ir trabalhar hoje. Dá para acreditar que numa situação como essa eu pensei em avisar a empresa que faltaria ao trabalho? Sou muito "pelega"!
      Poucos minutos depois o resgate chega, era o carro dos bombeiros, quando eles me pegaram para me colocar na maca, a dor foi tão intensa que nem consigo descrever, gritei muito, eram gritos tão fortes que acho que agredi os ouvidos dos socorristas, eles me pediram para não gritar e fazer um esforço para dizer onde era a dor, eles ainda não sabiam o que havia quebrado, eu não conseguia falar, só dor, só gritos, foi assim que eu entrei no carro do resgate, gritando de dor e sem movimentos.

         Assim que cheguei ao hospital, fui levada imediatamente para a sala de cirurgia, apaguei. Acordei horas depois, sem saber ao certo meu estado, só o que sabia é que não conseguia me mexer. Ainda me lembro do olhar de pena das enfermeiras: "coitada, tão nova!". Os primeiros dias foram de absoluta dúvida, nem os médicos sabiam se eu voltaria a andar, havia batido a coluna e as consequências só seriam medidas depois de exames minuciosos. A dor era tanta que não conseguia pensar direito sobre a possibilidade de ficar para sempre numa cama/cadeira de rodas. Só agora vejo que foi uma dádiva eu não conseguir pensar num possível futuro como tetraplégica. A dor de certa forma me anestesiou e dias depois recebo a noticia de que com muita fisioterapia eu voltaria a andar. E foi assim os meses seguintes... mas isso é assunto para outra postagem.

Obs: um pequeno trecho de um possível futuro livro.

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