sábado, 1 de fevereiro de 2014

Resgate




            Às vezes tenho inveja da vida que alguns levam, pessoas que simplesmente existem, sem grandes preocupações, sem neuras, dão a impressão que estão na vida à passeio, são turistas olhando as vitrines, vendo a banda passar enquanto se fotografam no espelho.
         E eu, passo os dias tentando pintar um quadro para o cego, tocar uma música para o surdo e escrevendo versos decassílabos para o analfabeto.
         Os dias passam, as horas são enlatadas e as emoções ficam entaladas.
         As raras epifanias servem-me apenas como lembrança de Casa.
         Dias vem, meses vão e minha alma anseia por encontrá-Lo.
         Tento fazer o jogo do contente, mas Chronos não me deixa esquecer que sou poeira.
         Já não consigo brigar com as fragilidades do corpo.
         Matéria por matéria, uso-as para marcar minha passagem.
         Papel, caneta, teclado e tela; isso é o que preciso.
         Para gritar aos turistas que a vida tem mais.
         Que esse mundo é um reflexo sujo e distorcido de um outro mundo.
         Há uma outra vida, um outro jeito de viver.
         Sinto-me como uma náufraga recém resgatada.

         Sem conseguir avisar aos demais náufragos sobre o Barco.

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