domingo, 11 de março de 2018

Reparação





“Atonement” é uma obra do inglês Ian McEwan.
Em 2007 foi ao cinema e chegou ao Brasil com o título “Desejo e Reparação”. 
Atonement = reparação ou expiação.

Reparação: s.f. 1. Ato ou efeito de reparar; restauração, conserto. 2. Satisfação dada a alguém por uma falta, uma ofensa; retratação.
Expiação: s.f. 1. Purificação de crimes ou faltas cometidas. 2. Meio usado para expiar (-se); penitência, castigo, cumprimento de pena; sofrimento compensatório de culpa.

Ao longo da história, as pessoas foram obrigadas a tomar decisões difíceis, e até trágicas – sobre como reagir aos sofrimentos pelos quais passaram nas mãos de outros – ou sofrimentos que elas próprias causaram aos outros. O impacto em alguns casos perdura por toda a vida. Alguns erros são irreparáveis.
Muitas e muitas vezes nos deparamos com o dilema sobre a forma de responder à crueldade e ao sofrimento que impregnam a nossa vida.

Como responder ao mal?
Devemos fazer as pazes ou partir para uma retaliação?
É possível encarar aqueles que nos feriram?
Temos condições de conviver com nossos algozes?
E quanto ao mal que causamos aos outros?
Como conviver com a culpa e remorso pelo mal que causamos?
É possível desfazer ou compensar esse mal?
 
Há duas formas de lidar com o mal. A primeira implica no desejo de vingança e represálias ou uma suposta indiferença (não existe indiferença ao mal). A segunda, compaixão e fortaleza. A primeira nos enterra em ressentimentos e na amargura. O sentimento de injustiça nos corrói.
O desejo de vingança é instintivo, queremos ir à forra, ainda que de maneira sutil e elegante (?), isto é, sem sujar as mãos, sem parecer que estamos nos vingando. Há muitas maneiras de vingança, algumas até se parecem com bondade, outras se confundem com indiferença. Já disse: não existe indiferença ao mal.
Muitas vezes o impulso de reconciliação nos sobrevém, mas como lidar com a mágoa guardada?  Para expulsar a mágoa, exercer o perdão e a reparação será preciso uma força descomunal. Ir contra a natureza de pagar mal com o mal, humilhar-se perante o agressor/vítima. O ato de misericórdia não é para fracos, são para os pobres de espíritos, para os quebrantados. O orgulho, o ego ferido são empecilhos para a reparação e a reconciliação. A compaixão é o antídoto, pode quebrar os corações mais duros, pode dissolver culpas e mágoas nutridas por longo período.
Sem o perdão e a reparação os ciclos de violência (mesmo velados) continuam.
Num mundo que enfrenta ciclos de violência contínuos, quase ninguém se dispõe a pedir perdão, e muito menos conceder perdão. Se recusar a perdoar ou fazer reparação é menosprezar a Misericórdia. Perder a justiça reparativa que cura e liberta do cativeiro do ressentimento.

“Pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação.” 2 Coríntios 5:19.

O ato de perdoar e fazer reparação são o reconhecimento de nossa humanidade e da humanidade do outro. Perdoar é nobre; ser perdoado pode ser um alívio, perdoar genuinamente é sobre humano em certos casos.  E a reparação é irmã do perdão e uma via de mão dupla que pode ser exercida tanto pelo agressor quanto pela vitima. Perdão e reparação são os dois lados da mesma moeda. É preciso reparar os erros, as pessoas feridas precisam ser restituídas em sua dignidade, pois o pecado rouba a dignidade humana.
A reparação faz parte do processo de cura. Como agressores devemos demonstrar ao ferido o desejo de compensação, demonstrar
a profundidade de nosso desejo de sermos perdoados. Como vítimas, devemos demonstrar o desejo de perdoar; é o processo de cura e restauração.
A reparação tem o propósito de aliviar a culpa dos agressores e o ressentimento das vítimas, é o ato que faz correções, repara os danos, propõe a restituição, procura fazer uma compensação, limpa a consciência do transgressor, alivia o ódio da vítima e faz justiça com um sacrifício (em alguns casos) correspondente ao dano que foi feito.
Sem nos dar a oportunidade de reparar o mal que causamos/sofremos, por maior que tenha sido, ficamos presos ao passado; sem condições de viver plenamente o momento presente. Enquanto as feridas do pecado não forem tratadas, a dor continuará tanto em você quanto no outro.

“Uma pessoa é, acima de tudo, uma coisa materialfácil de danificar e difícil de reparar.” Ian McEwan



Um comentário:

Lilian Phill disse...

Texto confrontador... E sim, é sobre seguir a Cristo e seus mandamentos. Perdão não é condicional, perdão é mandamento.perdao não é para eu me sentir bem, perdão é mandamento e honrar a Cristo.
Perdão tem estágios, são doloridos, mas recompensador.... Difícil chegar na recompensa