terça-feira, 13 de agosto de 2013

Justiça

Tenho pensado ultimamente sobre o conceito de justiça. Ouvi há alguns dias um colega de trabalho dizer algo mais ou menos assim: “Não é justo, não é justo que eu ande de carrão e haja pessoas que não tenham onde morar ou o que comer.” Falávamos sobre um trabalho social do qual ele participa ajudando moradores de rua.
E tanto se fala sobre justiça, ela tem muitas faces. Crimes acontecem e as pessoas pedem justiça, há duas semanas começou o quadro “Vai fazer o quê?” no Fantástico em que questiona a ação das pessoas diante de uma injustiça. Um dos argumentos dos ateus é sobre a permissividade de Deus perante a injustiça.
Aprendi bem cedo que o mundo não é justo, e vamos combinar que a vida também não é justa, as pessoas não são justas, nem Deus é justo, porque se Ele fosse justo, eu não existiria.
Essas afirmações partem do principio do merecimento. Normalmente quando as pessoas falam em justiça, o que está embutido no discurso é o merecimento, fulano merece isso, sicrano não merece aquilo e por aí vai.
Se olharmos pelo prisma meritório, fica fácil desacreditar na justiça. Toda vez que julgamos se algo/alguém merece ou não estamos fazendo um julgamento baseado em nossos próprios critérios, nosso senso de justiça nos diz que quem faz tem que pagar, que é injusto fulano que “nunca fez mal pra ninguém” sofrer tanto. Mas nossa visão é limitada, o julgamento é carregado de conceitos e pré conceitos do nosso pequeno mundo, está preso a nossa bagagem de vida, ao nosso histórico dificultando uma avaliação neutra. Se o julgamento totalmente imparcial é impraticável, como saber se estamos mesmo sendo justos com as pessoas?
Em “Os Miseráveis”, o personagem Jean Valjean recebeu abrigo e comida do bispo, mesmo assim roubou a prataria da casa. O que ele merecia sendo um ex presidiário? Voltar para a prisão é a resposta lógica, mas o bispo não só o perdoou, como também lhe ofereceu mais prataria para que vendesse e iniciasse uma nova vida. A misericórdia (não receber o que merecia) “quebrou” o coração do ladrão e o regenerou.
Aprendi com Victor Hugo, que o bem vence o mal quando a misericórdia é colocada acima da justiça. E depois o Evangelho me confirmou que a verdadeira justiça trilha as estradas da compaixão e da misericórdia. Todas as vezes em que Jesus se compadecia das pessoas e exercia misericórdia, a roda da justiça se movia.
A justiça pela justiça, por si só, não faz sentido. A justiça deve ser movida por amor ao seu semelhante.
Cada vez que perdoo quem supostamente não merece, estou ajudando o bem triunfar sobre o mal, e há situações em que sofrer as consequências pelos erros é inevitável. A justiça acompanhada pela bondade pode gerar uma mudança genuína.
No caso de alguém estar sofrendo as consequências de seus erros, ainda assim, posso ser movida pela compaixão. Não atirando pedras enquanto o outro está acorrentado em seus erros, permitindo que haja espaço para arrependimento e mudança. Permitir que o outro receba o que eu gostaria de receber se estivesse em seu lugar é a base de uma justiça compassiva.
A justiça dá o que merecemos, a misericórdia “quebra” o coração e a compaixão nos capacita para a justa medida. Porque a justiça sem amor não é justiça, é mera punição.
O amor é a chave que gira a fechadura da (in)justiça e abre as portas para um mundo em que todos desejam viver.

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