Tenho pensado ultimamente sobre o conceito de justiça. Ouvi há alguns
dias um colega de trabalho dizer algo mais ou menos assim: “Não é justo,
não é justo que eu ande de carrão e haja pessoas que não tenham onde
morar ou o que comer.” Falávamos sobre um trabalho
social do qual ele participa ajudando moradores de rua.
E tanto se fala sobre justiça, ela tem muitas faces. Crimes acontecem e
as pessoas pedem justiça, há duas semanas começou o quadro “Vai fazer o
quê?” no Fantástico em que questiona a ação das pessoas diante de uma
injustiça. Um dos argumentos dos ateus é sobre
a permissividade
de Deus perante a injustiça.
Aprendi bem cedo que o mundo não é justo, e vamos combinar que a vida
também não é justa, as pessoas não são justas, nem Deus é justo, porque
se Ele fosse justo, eu não existiria.
Essas afirmações partem do principio do merecimento. Normalmente quando
as pessoas falam em justiça, o que está embutido no discurso é o
merecimento, fulano merece isso, sicrano não merece aquilo e por aí vai.
Se olharmos pelo prisma meritório, fica fácil desacreditar na justiça.
Toda vez que julgamos se algo/alguém merece ou não estamos fazendo um
julgamento baseado em nossos próprios critérios, nosso senso de justiça
nos diz que quem faz tem que pagar, que é injusto
fulano que “nunca fez mal pra ninguém” sofrer tanto. Mas nossa visão é
limitada, o julgamento é carregado de conceitos e pré conceitos do nosso
pequeno mundo, está preso a nossa bagagem de vida, ao nosso histórico
dificultando uma avaliação neutra. Se o julgamento
totalmente imparcial é impraticável, como saber se estamos mesmo sendo
justos com as pessoas?
Em “Os Miseráveis”, o personagem Jean Valjean recebeu abrigo e comida do
bispo, mesmo assim roubou a prataria da casa. O que ele merecia sendo
um ex presidiário? Voltar para a prisão é a resposta lógica, mas o bispo
não só o perdoou, como também lhe ofereceu
mais prataria para que vendesse e iniciasse uma nova vida. A
misericórdia (não receber o que merecia) “quebrou” o coração do ladrão e
o regenerou.
Aprendi com Victor Hugo, que o bem vence o mal quando a misericórdia é
colocada acima da justiça. E depois o Evangelho me confirmou que a
verdadeira justiça trilha as estradas da compaixão e da misericórdia.
Todas as vezes em que Jesus se compadecia das pessoas
e exercia misericórdia, a roda da justiça se movia.
A justiça pela justiça, por si só, não faz sentido. A justiça deve ser movida por amor ao seu semelhante.
Cada vez que perdoo quem supostamente não merece, estou ajudando o bem
triunfar sobre o mal, e há situações em que sofrer as consequências
pelos erros é inevitável. A justiça acompanhada pela bondade pode gerar
uma mudança genuína.
No caso de alguém estar sofrendo as consequências de seus erros, ainda
assim, posso ser movida pela compaixão. Não atirando pedras enquanto o
outro está acorrentado em seus erros, permitindo que haja espaço para
arrependimento e mudança. Permitir que o outro
receba o que eu gostaria de receber se estivesse em seu lugar é a base
de uma justiça compassiva.
A justiça dá o que merecemos, a misericórdia “quebra” o coração e a
compaixão nos capacita para a justa medida. Porque a justiça sem amor
não é justiça, é mera punição.
O amor é a chave que gira a fechadura da (in)justiça e abre as portas para um mundo em que todos desejam viver.
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