Vivemos
em tempos em que desonrar as pessoas publicamente virou rotina. As redes
sociais escancaram o que antes era restrito às conversas de boteco.
Numa
cultura em que focalizar as falhas alheias e denunciá-las é enfatizada, falar
sobre honra parece um tanto quanto retrógado. A questão é ética, e atemporal.
Não
ferir a dignidade de uma pessoa perante tanta facilidade requer uma dose
cavalar de autocontrole (temperança) e uma conduta ética que ultrapassa o senso
comum. O apelo que se faz por meio de piadas é sutil, e de piada em piada
jogamos lama nas pessoas.
Ainda
mais quando a atitude da pessoa em questão fere nossos valores e a indignação
atropela o bom senso.
É
tentador demais falar mal de quem nos feriu seja direta ou indiretamente, uma
vingança saborosa. E é mais cômodo também usar o “Argumentum ad hominem” (em latim, argumento contra a pessoa) em discussões
políticas e/ou teológicas. Vejo isso nas redes sociais o tempo todo!
Pessoas
públicas são alvos mais comuns devido à vulnerabilidade por sua exposição
constante na mídia. É claro que pessoas não famosas também são atacadas, em
menor escala, mas todos são alvo dessa postura que intoxica as redes sociais.
Ouvi
dizer que há culturas em que as pessoas são menos mal educadas ao externalizar
suas frustrações. Apesar de raro, aqui também há pessoas assim; elegantes no
trato com as falhas alheias. Não usam de palavras torpes, fazem suas
observações de forma polida, usando eufemismos, metáforas e outras figuras de
linguagem, afinal porque não usar um recurso tão rico em nossa comunicação?!
André
Comte-Sponville em seu “Pequeno tratado das grandes virtudes” diz que a polidez
é mãe das virtudes. Segundo Sponville: “A polidez é a primeira virtude e quem
sabe, a origem de todas.”
Polidez:
Postura, comportamento, do que é gentil, que demonstra gentileza, cortesia ou
civilidade. Na Linguística: discurso que demonstra cortesia, gentileza, através
do uso de expressões que suavizam a autoridade imperativa do locutor.
Penso,
se essa virtude fosse mais valorizada e buscada, a internet não estaria
infestada de tantas publicações agressivas, muitas vezes disfarçadas de humor. Essas
atitudes demonstram uma falha na moralidade pessoal,
Há quem
diga que os políticos, e alguns governantes merecem o desrespeito sofrido, pois
foram seus próprios comportamentos que geraram a animosidade. Concordo que
alguns políticos não se fizeram respeitar, perderam autoridade moral diante da
população. E eu mesmo já desrespeitei alguns.
Mas não
é disso que estou falando, estou falando de uma disposição em se cultivar tal
virtude, e uma vez interiorizada a questão do “eles deram motivos” se torna
secundário. Pois desrespeitar a honra e dignidade alheia significará trair
nossos princípios. Nesse momento a questão não é mais o que “eles fizeram” para
sofrer desonra, mas sim o que “eu faço”.
Quando e
“se” chegarmos a esse nível, talvez tenhamos subido um degrau na evolução,
talvez...
“Boas
maneiras precedem e preparam o caminho para as boas ações. A moralidade é como
a educação da alma, uma etiqueta da vida interior.” André Comte-Sponville
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