A
sociedade pós-moderna diz que a fé cristã é irracional, porém o fato é que essa
sociedade também tem suas crenças não comprovadas e irracionais.
As
crenças que dão à vida humana razão, direção e propósito, não podem ser
provadas pela razão ou ciência. Como diz o crítico literário Terry Eagleton
“Cremos em muitas coisas para as quais não há nenhuma justificação racional
incontestável, mas ainda assim, faz sentido acalentá-las.”
Um bom
exemplo são os ateus, eles crêem que suas convicções são confiáveis, então,
quer eu pertença a uma religião, quer seja agnóstica ou ateia, posso ter uma
firme convicção de que aquilo em que creio é confiável, mesmo que tal crença
não possa ser provada.
Para o
cristão a fé não é algo meramente cognitivo, mas também relacional e
existencial. Isso significa que para o cristão não é somente uma questão de
lógica e dedução, envolve algo mais que a racionalidade.
O
filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein disse que jamais conheceu alguém que
acreditasse em Deus porque tivesse se deixado convencer por argumentos.
Existe
uma enorme diferença entre a aceitação racional e a conversão que gera uma
transformação pessoal. As pessoas não se convertem pela argumentação, mas
quando compreendem a glória de Deus, ou então pelo encontro direto ou
experiência com Ele.
Apesar
do argumento racional não gerar a fé, a racionalidade faz uma espécie de
“manutenção” da fé, geralmente aquele que possui fé busca entender sobre aquilo
que crê. No caso do cristão, há uma sede do conhecimento de Deus, da sua
Palavra, tudo isso permite que a fé amadureça mediante o conhecimento racional
em conjunto com a fé.
Anselmo
de Cantuária tinha como marca a “fides
quaerens intellectum”(“fé em busca de entendimento”) que, para ele,
significava “um ativo amor de Deus em busca de um conhecimento mais profundo de
Deus”. Ele escreveu “Não busco entender para crer, mas creio para que possa
entender. Por isso, também, acredito que, a não ser que eu primeiro acredite,
não serei capaz de entender”. Esta frase foi possivelmente inspirada por Santo
Agostinho que escreveu em um de seus tratados: “Portanto, não busque entender
para que acredite, mas acredite para possa ser capaz de entender”. Anselmo
defendia que a fé precede a razão e que a razão pode expandir a fé.
Lógica e
fatos respondem determinadas questões e tem um limite, a razão não é capaz de
explicar tudo, fica devendo no que diz respeito aos anseios mais profundos do
ser humano, sobre “a vida como ela é” e seus desdobramentos. Sem fé e sem todas
as questões respondidas pela razão, muitos se tornam céticos.
Quem diz
algo sobre isso é o escritor G.K Chesterton em sua obra Ortodoxia:
“Para responder ao cético
arrogante, não adianta insistir que deixe de duvidar. É melhor estimulá-lo a
continuar a duvidar, para duvidar um pouco mais, para duvidar cada dia mais das
coisas novas e loucas do universo, até que, enfim, por alguma estranha
iluminação, ele venha a duvidar de si próprio”
As
observações vão se acumulando em uma sequencia, suscitando uma indagação mais
profunda, às vezes nos sobrevém como um raio, num ato de insight. Antes que o
cético seja “atingido” por esse raio, que é a Revelação, ele é seduzido por
diversas outras crenças e teorias que não dão suportes sólidos para a
existência.
Uma das
crenças que vemos hoje é a de que uma sociedade sem religião é isenta dos males
que presenciamos, é a utopia de um mundo totalmente livre, de que quando a “fé
cega” for eliminada dará lugar ao mundo justo e igualitário.
Essa
visão ingênua conduz à utopia política, que não reconhece bem a profunda
ambiguidade da natureza humana com real capacidade tanto para o bem como para o
mal.
E enfim
quando essa ingênua racionalidade humana ceder espaço para a fé, o cético
perceberá o engano sobre muitos conceitos considerados inteligentes e concluirá
que a fé cristã não é inimiga da razão, mas sim uma grande aliada.
Referências:
McGrath, Alister. Apologética pura e simples. Edições Vida
Nova. 2013.
Chesterton, G.K. Ortodoxia. Mundo Cristão. 2008.
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