segunda-feira, 3 de junho de 2013

Amigos invisíveis


        



         Amigos imaginários, você já teve? Ah, vai, confessa.... eu sei que sim, pode falar, aliás atire a primeira pedra quem nunca teve amiguinho invisível na primeira infância.
         Pois é, este texto é para falar dos nossos primeiros amigos, os imaginários.
         Eu tive, na infância eram os coleguinhas que brincavam comigo quando não tinha nenhum adulto por perto, e também tinha aqueles que me faziam companhia à noite enquanto o sono não chegava, eles ficavam conversando comigo até eu conseguir dormir, às vezes eram representados por algum brinquedo, uma boneca talvez.
         Conforme crescia, conhecia outras crianças e deixava meus amiguinhos imaginários de lado, quando entrei na pré-escola então, coitados, ficaram bem esquecidos!
         Os amigos imaginários eram também invisíveis. E apesar dos adultos considerarem apenas imaginação, esses amiguinhos eram reais na minha vida, eles interagiam comigo e creio que foi importante para a minha futura vida social, pois com esses amigos eu brincava, brigava, fazia as pazes, era um ensaio para a pré-escola.
         Durante muito tempo da vida adulta, considerei que esses amiguinhos tinham ficado completamente no passado. E também sempre achei que fosse algo exclusivo das crianças.
         Andei me enganando, novidade!!
         Os amigos invisíveis e reais são tão comuns na minha vida de adulta como eram na infância, o que mudou foi a interação, o modo como eu me relaciono com eles.
         Hoje, esses amigos ganharam outro status, receberam uma promoção e agora são chamados de escritores.
         Isso mesmo, os escritores são meus amigos, não são imaginários, mas invisíveis. Eles são tão reais quanto os da infância. Apesar de não ter matéria, carne e osso na minha frente, eles existem mesmo.
         Eles se materializam por meio dos seus textos, das suas palavras, das mensagens que deixam na minha vida.
         Muitos deles só existem no plano do invisível porque já faleceram, outros estão distante de mim geograficamente e por isso nosso contato é mediado por suas obras.
         Outro dia li uma publicação na rede social que dizia que todo leitor se sente amigo do escritor, é verdade. Afinal a leitura é uma via de mão dupla, o escritor nos fala por meio da sua obra e o leitor responde interagindo com a leitura que faz.
         Uma leitura nunca é neutra, o leitor responde ao que lê, positiva ou negativamente.
         E ai de quem me disser que Pessoa, Bandeira e Drummond não são meus amigos, são sim!  Foram eles que encheram minha vida de beleza com suas poesias.
         Foi Davi com seus Salmos que me sustentou em muitos momentos de angústia.
         Foi Chico Buarque que me disse que a gramática é amiga da literatura.
         Foi Renato Russo que me disse que a poesia é irmã da música.
         Foi Machado quem me mostrou que a palavra bem manejada é uma arte. E qualquer um que lê Machado sabe o quanto ela dialoga com o leitor. Então não venha me dizer que amigo invisível é coisa de criança, e se for mesmo, quero ser sempre criança, para continuar com essas amizades tão preciosas.
         E foi na vida adulta que eu conheci meu melhor amigo invisível, mas isso é assunto para outro texto.

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