Quando
começou esses protestos para redução da tarifa de ônibus, eu tive uma
atitude cética em relação as mudanças. Pensava: mesmo que o povo saía às
ruas e proteste, a tarifa não vai baixar e se baixar vamos pagar o
aumento
de qualquer forma, por outra via, afinal “não existe almoço grátis” não
é mesmo?
Porém,
contudo, entretanto, no entanto; depois de diversos protestos, creio
que a maior mudança já aconteceu: o povo nas ruas. Há tempos o Brasil
não via a multidão tomar as vias públicas por direitos da maioria. Quem
disse que não existe máquina do tempo? O ano de 2013 traz de volta 1964
e suas inúmeras questões sobre liberdade de manifestações públicas, já
que houve por parte do poder público a proibição de se manifestar,
ditadura again? Como não nos reportar ao anos
de chumbo?
Durante
as primeiras manifestações me mantive em cima do muro, desconfiada de
manipulação política ou midiática, pois fiz parte da geração cara
pintada.
Mas
o que vi nas reportagens e matérias da internet foi uma postura
truculenta da polícia e do Estado, com prisões arbitrárias (portar
vinagre virou crime), uma violência descabida e uma autoridade abusiva, o
óbvio ululante
diria Nelson Rodrigues. O termo prisioneiro político retornou aos
jornais assim como nos anos rebeldes, pois esses presos, de criminosos
não tinham nada, são pessoas que estavam nas ruas manifestando suas
posições ideológicas.
E
muitos dirão: e as depredações, os vândalos e arruaceiros que queimaram
ônibus, picharam e destruíram patrimônio público? Sempre tem aquele Sem
graça que estraga a brincadeira dos outros, no caso são essas pessoas
que
não abraçaram a causa e se aproveitaram do momento para mostrar seu
lado selvagem.
Após
ver tantas imagens de extrema covardia, decidi que não podia mais me
manter fora do movimento, disse a mim mesmo: hora de ir pra rua, mostrar
que juntos podemos mais. Como diz o Capitão Nascimento “o inimigo agora
é outro”.
Creio
que muitos pensaram assim, pois após a veiculação de imagens da
violência policial o número de participantes aumentou e muito.
Para mim a questão não era mais o
aumento das passagens e sim o direito por um país livre, são nessas
horas que percebemos como nossa democracia é maquiada. A ação da policia
só serviu de incentivo para lutar por uma democracia
real.
Participei
do quinto ato contra o aumento das passagens, uma manifestação que
parou a cidade de São Paulo. Foi uma manifestação muito pacifica. Confesso que me
surpreendi, pois estava pronta para mais uma ataque covarde da tropa de
choque.
Durante
os dias que antecederam a manifestação, diversas instruções circularam
pela rede social. Uma verdadeira tática de guerra, cartilhas de
orientações jurídicas no caso de prisões, instruções de como se defender
de
armas não letais, entre outras informações. Passei pelo menos um dia
lendo sobre gás lacrimogênio, spray de pimenta, balas de borracha; como
são, quais são seus efeitos e como se proteger. Eu que nunca vi uma
guerra de perto não acreditei estar precisando
de tais informações. Que país é este? Indigna Nação!
Ao caminhar pelas ruas de São
Paulo, novamente me recordei de 1964, nasci bem depois e conheci a
história por meio de livros e da televisão. Lembro-me perfeitamente de
quando era adolescente e sabe como são os jovens,
cheios de ideias revolucionárias. Assistindo a série global Anos
Rebeldes, dizia: se eu estivesse lá, estaria na rua, nos protestos,
lutando por um Brasil melhor. É fácil falar quando estamos assistindo de
longe, mas eis que me foi concedida a oportunidade
de mostrar que apesar do tempo e das lutas da vida adulta, meus
princípios não mudaram, minha capacidade de indignação perante a
injustiça não foi alterada.
Caminhando em nome da justiça e
da não violência percebi que esse fato também será conhecido pela futura
geração por meio dos livros e das imagens deixadas por nós.
Poderei dizer que minha história se cruzou com a História.
Pretendo continuar como fizeram
os jovens em 1964, “caminhando e cantando e seguindo a canção”. A canção
da liberdade, da democracia, da justiça, da luta por um país digno.
Vem, vamos embora , quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
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