terça-feira, 18 de junho de 2013

Poderia ser 1964, mas é 2013


     Quando começou esses protestos para redução da tarifa de ônibus, eu tive uma atitude cética em relação as mudanças. Pensava: mesmo que o povo saía às ruas e proteste, a tarifa não vai baixar e se baixar vamos pagar o aumento de qualquer forma, por outra via, afinal “não existe almoço grátis” não é mesmo?
     Porém, contudo, entretanto, no entanto; depois de diversos protestos, creio que a maior mudança já aconteceu: o povo nas ruas. Há tempos o Brasil não via a multidão tomar as vias públicas por direitos da maioria. Quem disse que não existe máquina do tempo? O ano de 2013 traz de volta 1964 e suas inúmeras questões sobre liberdade de manifestações públicas, já que houve por parte do poder público a proibição de se manifestar, ditadura again?  Como não nos reportar ao anos de chumbo?
     Durante as primeiras manifestações me mantive em cima do muro, desconfiada de manipulação política ou midiática, pois fiz parte da geração cara pintada.
     Mas o que vi nas reportagens e matérias da internet foi uma postura truculenta da polícia e do Estado, com prisões arbitrárias (portar vinagre virou crime), uma violência descabida e uma autoridade abusiva, o óbvio ululante diria Nelson Rodrigues. O termo prisioneiro político retornou aos jornais assim como nos anos rebeldes, pois esses presos, de criminosos não tinham nada, são pessoas que estavam nas ruas manifestando suas posições ideológicas.
     E muitos dirão: e as depredações, os vândalos e arruaceiros que queimaram ônibus, picharam e destruíram patrimônio público? Sempre tem aquele Sem graça que estraga a brincadeira dos outros, no caso são essas pessoas que não abraçaram a causa e se aproveitaram do momento para mostrar seu lado selvagem.
     Após ver tantas imagens de extrema covardia, decidi que não podia mais me manter fora do movimento, disse a mim mesmo: hora de ir pra rua, mostrar que juntos podemos mais. Como diz o Capitão Nascimento “o inimigo agora é outro”.
     Creio que muitos pensaram assim, pois após a veiculação de imagens da violência policial o número de participantes aumentou e muito.
     Para mim a questão não era mais o aumento das passagens e sim o direito por um país livre, são nessas horas que percebemos como nossa democracia é maquiada. A ação da policia só serviu de incentivo para lutar por uma democracia real.
     Participei do quinto ato contra o aumento das passagens, uma manifestação que parou a cidade de São Paulo. Foi uma manifestação muito pacifica. Confesso que me surpreendi, pois estava pronta para mais uma ataque covarde da tropa de choque.
   Durante os dias que antecederam a manifestação, diversas instruções circularam pela rede social. Uma verdadeira tática de guerra, cartilhas de orientações jurídicas no caso de prisões, instruções de como se defender de armas não letais, entre outras informações. Passei pelo menos um dia lendo sobre gás lacrimogênio, spray de pimenta, balas de borracha; como são, quais são seus efeitos e como se proteger. Eu que nunca vi uma guerra de perto não acreditei estar precisando de tais informações. Que país é este? Indigna Nação!
     Ao caminhar pelas ruas de São Paulo, novamente me recordei de 1964, nasci bem depois e conheci a história por meio de livros e da televisão. Lembro-me perfeitamente de quando era adolescente e sabe como são os jovens, cheios de ideias revolucionárias. Assistindo a série global Anos Rebeldes, dizia: se eu estivesse lá, estaria na rua, nos protestos, lutando por um Brasil melhor. É fácil falar quando estamos assistindo de longe, mas eis que me foi concedida a oportunidade de mostrar que apesar do tempo e das lutas da vida adulta, meus princípios não mudaram, minha capacidade de indignação perante a injustiça não foi alterada.
    Caminhando em nome da justiça e da não violência percebi que esse fato também será conhecido pela futura geração por meio dos livros e das imagens deixadas por nós.
     Poderei dizer que minha história se cruzou com a História.
  Pretendo continuar como fizeram os jovens em 1964, “caminhando e cantando e seguindo a canção”. A canção da liberdade, da democracia, da justiça, da luta por um país digno.
   Vem, vamos embora , quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

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